sábado, 22 de agosto de 2009

LSD


Corro em disparada em direção ao descaminho
Trilhos me fazem andar em linhas curvas e perigosas
Tenho vertigens, vejo imagens ocas e brancas
Eu sabia que não poderia haver amor entre um escorpião e uma cobra
Guizos presos no meu dorso
Dentes e pernas não me afligem
Atalhos e mãos não cessam minha fúria de fêmea no cio
Crinas nascem e morrem no meu sexo
Cavalos feridos são simplesmente assassinatos sem golpes cruéis de faca
Minha dor é olhar o mundo e não ver nada além de um poço
fundo e imundo - desalinho - cavo o meu próprio umbigo
Flores não nascem em mim
Esterco
A morfina não adormeceu noites nem aliviou o terror das minhas lobotomias
Do lado de fora, o sol e a lua se encaram, frente a frente,
como se não houvesse precipícios
Insulinas me invadem e me tornam menos doce.
Não sei se punge mais os meus rasgos ou meus remendos.
Queria entender o vermelho-morte de Almodóvar.
O amarelo suicida de Van Gogh
Arrancar com carinho os lírios que nascem à margem do meu corpo
O nosso amor é um labirinto repleto de portas falsas
Caranguejos roçando folhas à procura de abrigo
E eu, de cócoras no escuro, devorando com aflição meus pequenos defuntos
Fetos inocentes flutuam dispersos na minha barriga
Quente feito mármore
E eu não tenho coragem de arrancá-los com os dedos
Punhos verdes e inertes. Meu corpo delgado vomita pores-de-sóis
Arco-íris entorpecidos adormecem depois das tempestades
Tudo se foi e minha cegueira não me deixou degustar os detalhes mórbidos dessa partida
Deito na minha gaiola de aço e espero o pássaro negro e cego devorar o resto dos meus olhos. Esbranquiçado.

sábado, 15 de agosto de 2009

selo gentilmente cedido por Chico

SELO BLOG DE OURO.


Recebi do blog Coisas do Chico,
o Selo Blog de Ouro



As regras:

1. Exiba a imagem do selo “Blog de Ouro”;
2. Poste o link do blog de quem te indicou;
3. Indique 4 blogs de sua preferência;
4. Avise seus indicados;
5. Publique as regras;
6. Confira se os blogs indicados repassaram o selo.



os meus indicados:


Penetra surdamente no reino das palavras ...
VERSOS & PERVERSOS
Bragas e Poesia
On The Rocks

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mosaico de Rancores: capítulo 38


Você jamais me poupou dos detalhes. Uma simples chave em cima do criado-mudo era comentário pra uma semana. Era sua maneira egoísta de me escancarar o mundo. Abrir meus olhos esbranquiçados de não ver. Eu procurava explicações e você me estendia dálias negras e úmidas. Aveludadas e amargas. Por que todos imaginam que flores são doces? Ergo os lençóis e vejo os imensos marimbondos. É preciso mastigar com ternura a singularidade das coisas. Você foi meus olhos, cru e perverso, e isso me incomodava. Enxergar o mundo com suas distorções, com sua visão fraca e pouco viril. Quartos escuros e vidros canelados. Fotos invertidas no varal. Uma poética 3X4. É incoerente encontrar vida na mansidão rouca dos dias. Minha garganta muda, cheia de nós, está envolta em cachecóis. Você tem esse poder de dar dimensões absurdas ao cotidiano, transformar migalhas em pães. Água turva em vinho. E eu presa às urgências. Cão-guia atravessando faróis. Obedecendo a tolice linear do mundo. Túneis desfeitos. Indigentes apodrecendo nos acostamentos. Canibalismos. A morte é um ser louco e pensante. Trituro o troco do entardecer. Escurece depressa. Olhos à espreita. Apalpo minhas costelas e ainda percebo a fúria de Deus no meu corpo. A costela rejeitada. A cegueira não me poupou de enxergar minúcias. Alavancas proporcionam uma falsa impressão de força. Sigo limpando a sujeira do amanhecer, aquela cor rosa esperança que não me recordo mais.