segunda-feira, 18 de abril de 2011

Entrevista com André de Leones


Hoje n' O BULE entrevista com o escritor André de Leones, ganhador do Prêmio SESC de Literatura 2005:


sexta-feira, 15 de abril de 2011

IV ENCONTRO PRÁTICA DE ESCRITA

O Encontro Prática de Escrita acontece informalmente desde 2001, mas há quatro anos o evento ganhou periodicidade e formato e vem se tornando parte da agenda de quem gosta de literatura. O principal objetivo do encontro é reunir pessoas que não só apreciam a literatura, mas também tudo que circunda a prática de escrita literária. A programação é dividida em dois tempos, o primeiro gira em torno das mesas com palestrantes, que discorrem sobre assuntos que permeiam o universo da literatura; o segundo tempo é das oficinas de criação literária. Pelo evento já passaram nomes como: Milton Hatoum, Marcelino Freire, Raphael Draccon, Kizzy Ysatis, Roberto de Souza Causo, Sérgio Pereira Couto, entre outros.O evento deste ano tem como convidados: o escritor, jornalista e apresentador do programa Metrópolis, da TV Cultura, Cadão Volpato; a jornalista, escritora e apresentadora do programa Letras & Leitura, na Rádio Eldorado, Mona Dorf; e o escritor e jornalista, apresentador do programa Perfil Literário, na Rádio Unesp,Oscar D’ambrósio. Cadão falará sobre sua prática literária; Mona Dorf e Oscar tratarão do universo literário, compartilhando suas experiências em centenas de entrevistas com escritores.O encontro deste ano acontece no dia 7 de maio, sábado, das 10h às 16h30, na Universidade Cruzeiro do Sul, campus Liberdade e é organizado pela Terracota editora como parte da programação do curso de lato sensuem Criação Literária. A inscrição deve ser feita aqui: http://terracotaeditora.com.br/pcl/?p=545
O limite de vagas é 120 para as mesas e 15 por oficina.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Trem de doido


A vida é um osso duro de roer. Desenterro os dias. Rizomas mortos. Enfio os dentes e perfuro até chegar ao tutano. Tenro. As moscas brancas cercam minha cara e incomodam. Olhos de boi. Estou há três dias soltando as tripas. Mais um dia de merda. As varejeiras continuam me fodendo a vida, rondando meu rabo. Oroboro o caralho. Nunca fui dado ao misticismo. Mandalas nunca me acalmaram. Gatos de Alice sarcásticos na janela. O suicídio é pra poucos.

Não consigo parar de pensar naquela cadela, a vaca só queria mesmo ser comida, depois sumiu, foi dar pra outro. E eu uivando feito tonto. Pau a pique. O amor é mesmo uma construção burguesa. Fico horas olhando as roupas secando no varal. Toda intimidade exposta a céu aberto. Pardais ciscam no quintal, sempre em cima do muro. É difícil assumir uma posição.

Se não bastassem os três dias de diarréia, ontem fui atravessar a rua e um idiota de um moleque me atropelou. Lembrei do Rogério e sua crônica sobre um animal de pelo curto e amarelo. Gosto de imaginar o amarelo sangrento no asfalto, feito um piche inventado. Baleia zonza debaixo do sol. Agora a minha perna está em carne viva, posso escutar o sorriso desses malditos mosquitos. Larvas me devoram e eu ainda não morri. Como pode um animal se conformar em viver sob a pele de outro? Parasitas me causam nojo.

Sinto tanta dor que o suor e a saliva escorrem abundantes pela minha língua. Acordo e o meu corpo está todo dolorido e não para de coçar, parece que carrapatos perfuraram a pele e fizeram ninho na ferida exposta.

Era só o que me faltava mesmo. Vejo duas mãos enormes. Luvas brancas. Já até imagino o que me espera. É o Rogério. Ele aperta com força. Duas, três, quatro vezes. Uma berne salta e se esparrama elegante no chão. Tento agarrá-la. A coceira para. Mas preciso ficar deitado até essa perna sarar, ele alerta enquanto afaga entre minhas orelhas. Eu não posso mais perseguir o centro de mim. E afinal, o que mais pode um cão fazer além de correr atrás do próprio rabo? Hidrofobia. Mordo a canela do meu dono.A vida é um osso duro de roer. Desenterro os dias. Rizomas mortos. Enfio os dentes e perfuro até chegar ao tutano. Tenro. As moscas brancas cercam minha cara e incomodam. Olhos de boi. Estou há três dias soltando as tripas. Mais um dia de merda. As varejeiras continuam me fodendo a vida, rondando meu rabo. Oroboro o caralho. Nunca fui dado ao misticismo. Mandalas nunca me acalmaram. Gatos de Alice sarcásticos na janela. O suicídio é pra poucos.

Não consigo parar de pensar naquela cadela, a vaca só queria mesmo ser comida, depois sumiu, foi dar pra outro. E eu uivando feito tonto. Pau a pique. O amor é mesmo uma construção burguesa. Fico horas olhando as roupas secando no varal. Toda intimidade exposta a céu aberto. Pardais ciscam no quintal, sempre em cima do muro. É difícil assumir uma posição.

Se não bastassem os três dias de diarréia, ontem fui atravessar a rua e um idiota de um moleque me atropelou. Lembrei do Rogério e sua crônica sobre um animal de pelo curto e amarelo. Gosto de imaginar o amarelo sangrento no asfalto, feito um piche inventado. Baleia zonza debaixo do sol. Agora a minha perna está em carne viva, posso escutar o sorriso desses malditos mosquitos. Larvas me devoram e eu ainda não morri. Como pode um animal se conformar em viver sob a pele de outro? Parasitas me causam nojo.

Sinto tanta dor que o suor e a saliva escorrem abundantes pela minha língua. Acordo e o meu corpo está todo dolorido e não para de coçar, parece que carrapatos perfuraram a pele e fizeram ninho na ferida exposta.

Era só o que me faltava mesmo. Vejo duas mãos enormes. Luvas brancas. Já até imagino o que me espera. É o Rogério. Ele aperta com força. Duas, três, quatro vezes. Uma berne salta e se esparrama elegante no chão. Tento agarrá-la. A coceira para. Mas preciso ficar deitado até essa perna sarar, ele alerta enquanto afaga entre minhas orelhas. Eu não posso mais perseguir o centro de mim. E afinal, o que mais pode um cão fazer além de correr atrás do próprio rabo? Hidrofobia. Mordo a canela do meu dono.