segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A ilha do dia anterior





Havia um barulho de moedas
despencando na noite
e o bater de asas desarmônico das moscas
o azul terno das moscas moribundas.

Pareciam sinos entoando tristes melodias
e eu pensava em partir,
ouvindo o apito urgente dos navios,
embora não houvesse portos nos arredores
nem sonhos despedaçados de velhos marinheiros.

As coisas não acabam quando terminam – desterros,
precisam se acostumar  com a solidão dos relógios parados,
dos pêndulos desnudos – A crônica da casa assassinada
com a sublimação agonizante das naftalinas.

os objetos se desfazem antes ou depois
se espremendo numa verdade inventada,
Partida –ficção e traças...

Pinto o rouge et noir
dos morangos mofados
lagartas sem metamorfoses
queimando o oco do meu peito
- ensurdeço.

A gosma branca da solidão
anda feito lesma no meu dorso
um resto em retardo do seu gozo.

Hoje,
tétano nos meus olhos enferrujados
de tanto ver.
A dor é uma crosta espessa
falsos moluscos enrodilhando minha pele
Peixes estripados.

11 comentários:

Anônimo disse...

Poema para você ler, reler, reler, ler, reler... e viajar.

Adriana Godoy disse...

"A dor é uma crosta espessa falsos moluscos enrodilhando minha pele Peixes estripados."


Beleza de poema, Márcia. Beijo

lisa disse...

"As coisas não acabam quando terminam – desterros" .

Refleti muito sobre isso e de fato a história das coisas e dos seres permanece mesmo no seu fim usual.

"As linhas traçadas na face
Os ombros caídos e cansados
O solo infertil e a mulher desertificada
Ontem, não eram assim."

Poema tão profundo quanto os tesouros presos em um velho navio naufragado.

lisa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luciano Fraga disse...

Extremo da profundidade,palavras que soam como espadas a nos atravessar. Escrita afiada, abraço.

A VIDA É UM ETERNO APRENDIZADO disse...

Olá!
Adorei seu blog.Com certeza darei uma lida sempre que puder.
Grande abraço
se cuida

Luiz Augusto dos Reis disse...

ei, Marcia, para mim o poema, (obra prima, em verdade) seria teu, tanto q o publiquei no fb e tá todo mundo perguntando; de quem seria, teu mesmo???????

Rounds disse...

"tétano nos meus olhos enferrujados
de tanto ver".

du ca!.

bj

Felicidade Clandestina disse...

márcia, como sempre intensa nas palavras.

relógios parados, título do livro de lúcio...
quanta beleza e dor.

beijos

**** disse...

Dói e é lindo.

Um dia depois: hoje. disse...

sinestésico e aplicável ao meu caso atual