terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mosaico de Rancores: capítulo 27

Sinto-me suja e sozinha. Saíram e esqueceram a luz apagada. Tento vestir minha roupa, ela já não me cabe, o passado é uma casca dura e grossa e difícil de remover, é tinta respingada em cimento. Brotam sobre minha carne púrpura ervas-daninhas que precisam ser expurgadas. O barro de que sou feita não sustenta a ira do meu sangue. Jarros trincados. Péssimos oleiros. Os objetos estão nos seus lugares, mas envelheceram, eu envelheci. Camafeus mal esculpidos. Nunca consegui enxergar direções em bússolas. Tomo um banho, dizem que a água tudo cura, não me curou. Tétanos em meu peito. A chave gira do lado de fora da porta. Sinos apodrecem dentro de mim. Enrolo uma toalha sobre meu corpo. Lúcio se aproxima com um sorriso nos lábios, seus risos de infância. Ignorante da epilepsia e dos demônios que tomaram minha alma, ele me beija. Pinturas de Klint. Eu tinha certeza do seu sumiço e agora ele aparece dono de mim e eu procuro os pedaços que me roubaram. Um furto caro e permitido. Diamantes azuis. Rios encharcam a cama e eu faço amor com a facilidade de quem se deita para o sexo. O sol penetra docemente pela janela e espera à margem da cama.

10 comentários:

Marta disse...

Experimente fazer amor como quem faz amor, sem segredos ...

(Nao?)

Um Beijo eternoo*

JC disse...

Texto muito forte, à semelhança de anteriores. Quando fazemos amor com alguém, esse alguém tem que ser uma pessoa que nos diga muito e por quem tehamos um amor que nos permita dar-nos completamente, senão não será fazer amor, antes praticar sexo, o que para mim écompletamente diferente.
Beijinhos

Luciano Fraga disse...

Estou na correria. Irresistível não vir aqui, grande abraço.

Heitor Cardoso disse...

Hoje em dia é dificil destinguir sexo e amor. So no fim a gente descobre, depois do ato e da loucura.

Senti saudades.
Beijos minha marcia :*

guru martins disse...

...bem,
pelo menos
o sol...

bj

f@ disse...

Olá Márcia,
Até o Sol e as nuvens viajantes esperam que a chuva amai ne…
Depois raia e aquece o leito do rio…

Beijinhos das nuvens

Marisa Prado Lopes disse...

q o sol adentre secando tudo!!!!

q sempre venha um melhor amanhecer!!!!

bjaoooooo linda
Ma'

Diego Pinheiro: disse...

Olá Márcia!
Gostei muito do texto. Passa uma força e uma poesia nas palavras, se posso chamar assim, de forma que a cena é montada em um plano de sonhos, mas que não deixam de ser verdadeiros.
Lembro-me que comentou em um texto meu no blog de Ronaldo Braga (Bragas e Poesia) entitulado de "Os Olhos da Verdade". Agora criei um blog, espero que possa vitá-lo sempre que puder!
É este: www.pinheirodiego.blogspot.com

Beijos e abraços

Diego Pinheiro: disse...

Olá Márcia!
Gostei muito do texto. Passa uma força e uma poesia nas palavras, se posso chamar assim, de forma que a cena é montada em um plano de sonhos, mas que não deixam de ser verdadeiros.
Lembro-me que comentou em um texto meu no blog de Ronaldo Braga (Bragas e Poesia) entitulado de "Os Olhos da Verdade". Agora criei um blog, espero que possa vitá-lo sempre que puder!
É este: www.pinheirodiego.blogspot.com

Beijos e abraços

Anônimo disse...

Belo texto e belas figuras metafóricas, Marcia:

“Sinos apodrecem dentro de mim”(...). “Rios encharcam a cama e eu faço amor com a facilidade de quem se deita para o sexo. O sol penetra docemente pela janela e espera à margem da cama”.

Metáforas profundas e expressivas, profundamente expressivas. Você consegue fazer seu leitor parar para pensar e ver e sentir o momento que descreve. Isso é arte.

Você escreve maravilhosamente bem. Há poesia tanto nos seus versos como na sua prosa. Parabéns pelo talento!

Um grande beijo, menina bonita.


P.S.: Linkei o seu blog como um dos blogs que indico no meu.

P.S.2: Percebi que, assim como eu, você gosta de pinturas. Eu também gosto de colocar no cabeçalho dos meus textos alguma pintura que me agrada – exceção para os textos sobre o Google, por que eu precisava de algo que representasse a situação, mas ainda assim, no primeiro texto, o logo do Google é uma homenagem a Monet, pintado da maneira que ele fazia em seus quadros.