domingo, 6 de dezembro de 2009

Mosaico de Rancores: capítulo 41

Todos os dias rezo pela cegueira dos meus olhos vitrificados. Negro olhar implorando clemência. Coroa do Diabo. Cãos-guias me seguem e mostro-lhes com devoção a porta do Inferno. Porões. Telescópios descobrindo escuridões. Caminho até a cama e lá está você. Nu. Membros eretos. O espelho duplicando meus prazeres. Plenamente meu, ao alcance de todos os meus insanos desejos. Nirvana às avessas. Desejo e medo. A maçã repousa morta em minha boca. Um gosto de podridão amarga entre meus dentes. Enquanto polvos se enrolam em minhas pernas lívidas. Entregues. Refém da perversidade das minhas vontades, da tara das minhas mãos, da fúria do meu ventre quente, macio e úmido. Envolto em minhas vulvas de rancor desmedido. Violência e paixão. Caravanas e cachorros vadios percorrem minha pele. Ladro. Paralelepípedos balançam meus seios inóspitos. Caleidoscópios multiplicam minhas mãos e minhas línguas. Sinto a incoerência do seu corpo. Meus dentes te cravam e criam novos estigmas. Fisgadas. Cavalgo ideias e brota do meu púbis um mar de peixes vermelhos famintos. Descanso meus olhos nos antigos corais. Fósseis de um tempo que passou.

20 comentários:

Jenifer disse...

nossa... que intenso.

me faltaram palavras ao ler este texto.



beijos minha flor,
saudadinha de tu no reino das palavras.

lisa disse...

Descrição intensa de sentidos e percepções. Não há como descrever a sensação de ler tuas palavras. A volúpia herege da arte.

Klatuu o embuçado disse...

Bela micro-narrativa.

Beijinhos.

Adriana Godoy disse...

Márcia, grata surpresa ao encontrar mais um texto seu. Mais um texto envolvente, instigante,incomum e, sobretudo, de qualidade. Beijo.

Luciano disse...

Viceral. Ótimo como sempre. Adoro teus textos.
Parabéns, mais uma vez.
Bj Márcia.

Luciano Fraga disse...

Márcia, cada vez que deparo-me com seus textos algo como uma implosão interior desencadeia,acende todos os sentidos, (visão, tato),é uma poesia que tem um cheiro caracterisco(no alto nível das experiências), mangue e batom...Forte abraço.

Arábica disse...

Imagens muito fortes
contrariando o branco negro da cegueira desejada.

Tantas imagens em remoínho!

Beijos, Marcinha.

Alberto Ferreira disse...

Deu um aperto. Uma tristeza. Uma alegria. Um riso. Um 'Ó'. Deu um tudo.

muito bom.

Heitor Cardoso disse...

A maestria não te abandona, huh?

Deixo mais uma vez minha admiração e beijos. Te cuida.

Braga e Poesia disse...

a maçã repousa morta em minha boca.
marcia é forte quando escrito por uma mulher. a negação da origem da vida de uma outra forma é um negar mantendo-o distorcido, brilhante.
um texto que é como uma explosão e o encerramento é difuder.
bjos ronaldo

Arábica disse...

Que consigas realizar o teu natal conforme o idealizas!

Um abraço com carinho até ti, deste lado do mar.

f@ disse...

Olá Márcia,

sempre o melhor com o maior sentido e o + B ELO...

vim desejar-te
B
O
A
S

F
E
S
T
A
S

e deixar um beijinho

Luciano Fraga disse...

Márcia, boas festas e um ano novo repleto de positividade e saúde, muitas realizações, para você e familia, abração.

Rounds disse...

feliz ano novo!

tudo de bom pra você!

abs

Parreira disse...

Cheguei aqui por intermédio do Cronópios e...

Vertigem, essa é a palavra!

VALTER FIGUEIRA disse...

Oi Marcia
Está sendo um prazer lhe encontrar
encontrei seu endereço no cronopios
parabéns
um abraço

Arábica disse...

Marcinha,

deixo-te um beijinho neste novo ano que desejo melhor.

Luciano Fraga disse...

Querida amiga, estou na espera de um novo post, estou com saudades, abraço.

Sueli Maia (Mai) disse...

Paradoxalmente - amargo e belo. Intenso esse mosaico de paixões.
Muito bom tê-la encontrado.

Furlan disse...

Nuóóóóssaaaa! Uma vez eu era pequeno, ainda, e meu avô me levou para conhecer um dos museus mais lindos que já vi até hoje. A impressão que me acorre à mente, agora, é que em cada postagem sua há um museu daqueles inteiro. São quadros em linha, na diagonal, acima, abaixo, todos trazendo imagens obtundentes, de maneira a nos aparvalhar.
Dizer o que do gigantismo intelectual e da criatividade agressivo-pacificadora do que você escreve?
Aqui eu me transportei em várias dimensões. Seis sentidos são poucos, para ler você. Aqui encontro entrelinhas até nas entrelinhas, e tudo, tudo é magnífico.