domingo, 4 de outubro de 2009

Mosaico de Rancores: capítulo 40

Um anjo caído. Agora era assim que eu me referia a você. O chão sempre foi meu lugar de destaque, mas agora era seu. A vida é de uma comicidade única. Pão e circo todos os dias.Você que jamais precisou de mim, tão seguro de si, absoluto, agora estava ali, a um palmo das minhas minúsculas mãos. Manso e arredio com um homem castrado. Sem poder se movimentar, implorando auxilio de uma doida, de alguém que nunca enxergou a verdade estampada, óbvia, nua, crua e de mau gosto. Sou sua roupa mais incomoda, seu traje de domingo. Mofado. Pode se debater, porém não mudará a ordem perversa das coisas. Escorpiões devidamente verdes percorrem seu sexo e você não é capaz de removê-los. Ainda estou tentando entender como você pode cair do terceiro degrau da escada. Na certa a sua pretensão não pode usar o corrimão. Agora quem me contará cada detalhe idiota dos dias? Cada mudança de nuance de um céu que é sempre cinza? Pipas e balões em dias nublados. O tempo é um espelho enrugado, partido e oxidado. Não tente me provar o contrário com teorias baratas. A tristeza é ausência absoluta de cor. E meus olhos são de um branco leitoso e fosco. E dizem que o branco é o resultado de todas as cores juntas. Não na incongruência homicida dos meus olhos.

11 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

Márcia
lindo texto
...o branco e a ausnecia de cor, a tristeza..gostei dessa metáfora.

Adriana Godoy disse...

Sempre que leio seus textos vem uma sensação do inusitado, embora as emoções sejam iguais. Susa palvras sõ sempre bem colocadas e a gente vai formando as imagens aos poucos . Muito incrível seu texto. Forte, intenso, triste, poético, apaixonante. beijo.

BAR DO BARDO disse...

Márcia, você estacionou no belo e, como diz a Godoy, no inusitado. Lugares de onde não vai sair nunca!

Eu gosto!
Beijo!

Anônimo disse...

além do ´´gostei ou não´´: da ordem do insondável, textos que captam o impessoal: o devir do vento que vai além da fugaz perenitude: necessário por descoberto, desvelado, raro olhar .... admiro tua obra, Marcia... me faz lançar ponte : interlocução de ilhas.... façamos continente...beijo,
FLÁVIO VIEGAS AMOREIRA

Luciano Fraga disse...

Márcia, cada dia mais cortante e visceral a sua escrita, "olhos homicidas", que imagem fabulosa, os olhos fulminam mesmo, é uma arma letal e você imortalizou poeticamente,comno não ser fã? parabéns, abração.

f@ disse...

M+arcia beijinho e bom fim semana
não li teu texto .... é demais belo...
,,,

volto amanhã para ler

1nfinito beijinho

Rounds disse...

"a vida é de uma comicidade única"

e nós somos as marionettes.

o meu branco = vazio.

bj

Arábica disse...

Marcinha,

sempre a força dos seus textos, o lado de lá do cor de rosa.
O visceral e o profundo, os animais que nos corroem, os olhos que nos matam. Punhais na desordem do absoluto. O lado de lá de todos os rosas de todas as esperanças.

Abraço grande.

Anônimo disse...

Lindo... e muito louco!!!!!

disse...

Pão e sumo de letras, versos e in versos de um olhar infinito

o belo do seu texto

um beijo

Ganhando de Baciada disse...

"...O tempo é um espelho enrugado, partido e oxidado. Não tente me provar o contrário com teorias baratas ..." ... isso me lembra a teoria da relatividade geral, principalmente o ".. enrugado, partido e oxidado ..." ...completaria dizendo ... partido e enrugado pela massa, pela gravidade ... Bjs