terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mosaico de Rancores: capítulo 18

Barcos que não levam a lugar algum. Eu viajo amanhã. Ele me faz esboçar um pequeno sorriso. Dentes ruminando rancores. Falso. Pouco importa, ele não pretende comprar a briga. Leões continuam devorando suas presas entre os lençóis. Algemas... E eu aqui, sem chicote e sem mãos e com os olhos vendados. Abaixo a cabeça, sei que é inútil enfrentá-lo, seus flashs me cegariam. Sento no sofá e escolho ao acaso os retalhos, texturas e cores se perdem num poço fundo. Escuro. Não há cordas, nem mortos nem feridos. Agulhas atravessam o tecido e ele permanece no seu silêncio de domingo. Qualquer passo errado e ele despencará de um prédio de 10 andares. Engulo minha saliva e milhares de garras arranham minha garganta. Não dessa vez. Me calo. Formigas correm pelo meu corpo. Cobras saltam das minhas entranhas. E eu continuo sentada escolhendo a combinação perfeita. Aulas de yoga. “O ciúme é uma viagem sem ponto de parada.” Poderia impedi-lo de sair, trancar a porta, engolir a chave como aspirina. Ele beija meu rosto. Imagino outros beijos, imagino sua boca furtando outras bocas, invadindo outras coxas. Sinto Guernica dentro de mim. Poderia mergulhar até o fundo do poço e achar pedras verdes e preciosas, porém meus pés estão cansados de calcar o carvalho.

6 comentários:

Heitor Cardoso disse...

Realmente, o pessimismo nos persegue e envolve constantemente. (...) A culpa é sua, eu nao era assim :D
Na verdade, é sua, de Nietzsche e de Gessinger.

Entao, nao é bem que eu precise de algo. A questao é que Zeca Baleiro vai fazer uma apresentaçao em breve ai em SP, e eu e uns amigos iremos fazer a abertura do show. E sabe, Sao Paulo é uma cidade muito grande e estranha pra mim :D eu gostaria muito de ter uma guia e alguem pra acompanhar-me numa chicara de café com cigarro.

Germano Viana Xavier disse...

E esse te "número" é o mais "claro" até então, Márcia. Teu circo está forte e engrossando. Vejo símbolos quase reais na aurora de tua palavra.

Um carinho.
Continuemos...

Blood Tears disse...

Por vezes era tão mais fácil dar largas à fúria e deixar eclodir as emoções em chispas de fogo....

COntinua a aguardar o desenrolar envolvente... :)

Blood Kisses

Heitor Cardoso disse...

Bem, eles ainda estam decidindo, entre agora em Dezembro, ou em Fevereiro, porque se nao estou enganado, a pouco tempo o Zeca fez um show ai. Espero que seja logo, quero ampliar meu horizontes, e ver de perto a minha Musa :]
E, acredite, nunca experimentei nada melhor do que a euforia que é fazer uma apresentaçao desse tipo.
Enfim, aguardo ansioso.

Beijos ternos.

Luciano Fraga disse...

Ficar impassível, em frente a uma aparente derrota, sem forças para prosseguir caminhando eis o caos.Angustiado e tenso,o texto nos prende por que esperamos todo tempo a abertura de uma porta, uma fresta de saída ou de fuga. Magnifico, sucesso , beijo fraternal.

Anônimo disse...

o ciume não tem parada e nem partiuda é ou não é.
marcia seus textos são além de profundos eles são precisos.
vc escreve como quem fala com a desenvoltura do improviso e com o acerto do arrumado.
poetico, intrigante e cheio de mundos dentro dos mundos.