
Nossos corpos disputam espaço com os lençóis. É bom sentir o cheiro, o corpo e o gosto de outro homem. Não pergunto seu nome, ele tampouco, nomes não revelam ninguém, ocultam. Ele prende meus pulsos com uma das mãos e percorre a língua por cada centímetro doloroso e imperfeito do meu corpo. Arrepios e gemidos. Meninos quebrando vidraças. É assim que me vejo. Esqueço as cegueiras e as cataratas do meu mundo. Na escuridão os olhos não são bons companheiros e o caçador precisa apenas de bom faro. Ele solta meus pulsos e aperta com força meus quadris, enquanto sua cabeça e sua boca parecem desejar penetrar no meu íntimo. Um nascimento às avessas. Recôncavos e reentrâncias. Salto por cima do seu corpo. Seu rosto desconhecido me atrai. Ele tem ombros largos. Talvez possa segurar o mundo nas costas. Mas agora isso não importa. Deslizo as mãos pelo seu peito e procuro seu sexo. Encaixes. Percorro montanhas e desertos e não saio do lugar. Tempestades assolam casas. Gozos. Amores em conta-gotas. Muralhas da China dividem a cama. Carnavais fora de época invadem as ruas. Beijos de Arlequim. Pierrôs ensangüentados. Um rio verde e calmo deságua em mim e esconde em seu leito grandes moscas azuis. Colombinas e Judas em desalinho.