sábado, 18 de abril de 2009

Blogagem Coletiva - Quem foi Monteiro Lobato?




EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Quem já foi criança sabe que não é necessário grande sacrifício para sair do lugar, basta utilizar o pó de pirlimpimpim e voar através do espaço. E eu que me julguei tão atemporal ao procurar palavras para uma crônica percebi o tempo correndo sólido e pedregoso embaixo dos meus pés. Carvalhos submersos em um sítio do meu passado. Vinte anos atrás e eu poderia jurar que todas as bonecas falavam e sabugos de milho pensavam, e como pensavam!!! Ainda hoje olho com respeito às grandes plantações, se a raposa de Saint-Exupery lembra-se do príncipe ao ver os trigais, eu recordo com delícia do Visconde de Sabugosa ao avistar o milharal. Não enxergo apenas Ele, mas uma infância onde haviam risos e quintais.

Não posso dizer com exatidão a influência de Lobato na minha literatura, mas com toda certeza ele esteve presente nas minhas fantasias infantis, não como escritor, porque naquela época eu nem sabia direito o que isso significava, ele era um grande companheiro de aventuras, alguém que não me conhecia, contudo, adivinhava meus pensamentos mais absurdos, talvez tenha surgido aí minha paixão pelo realismo-fantástico.

Monteiro ensinava sem ser chato ou pedante, falava de guerra sem ser pacifista ou soldado. Ou melhor, talvez o sucesso da obra de Lobato foi exatamente sua falta de posição política, ele não dizia nada, absolutamente nada, em compensação, Emília era uma pedra no sapato de qualquer um, e isso era realmente encantador, principalmente para uma boneca de pano mal acabada, tinha a coragem de criança e a petulância dos adultos. Numa atitude totalmente impulsiva, ela foi capaz de transformar homens em miniaturas porque estava chateada com a tristeza gerada pela guerra. Agora, confesse comigo, se você tivesse a chave do tamanho, quantas vezes teria transformado a humanidade num bando de formigas, e se bobear teria até esmagado algumas, não é mesmo??? Emília é a boneca que toda mulher almeja se tornar, casa e descasa a hora que bem entende e não tem papas na língua, como diria minha querida e saudosa avó, que se parecia muito com Dona Benta. Monteiro foi um verdadeiro Jung da alma infantil, ele encontrou figuras que é comum a toda criança. Foi um mestre no que fez.

Também não posso me esquecer que encontrei com Monteiro bem mais tarde em suas crônicas para adultos. Descobri seu engajamento de uma forma bem mais panfletária, ou talvez, eu é que tinha crescido. Confesso, admiro a coragem e a perseverança desse homem, se eu tivesse um décimo de sua força, teria tudo que desejo. Seja como adulto ou como criança, Lobato é uma leitura obrigatória. Lembrei dos ditos de uma velha senhora: “É, Deus sabe como fazer a mulher!!!”. Tomaria suas palavras e diria: “É, Monteiro sabe como fazer um personagem!!!”. Aliás, ele não fez personagens, ele criou universos impensáveis, ou melhor, possíveis somente na cabeça das crianças e como é mágico ver com os olhos primitivos de uma criança, olhos imaculados. Queria que a minha morte tivesse o encantamento primeiro dos livros de Monteiro.




20 comentários:

Marcos Pontes disse...

Teu texto é uma prosa poética leve e encantadora, agradável como ler Lobato, seja o Lobato infantil, seja o adulto de coisas sérias.

O Lacombe disse...

gostei.

Isadora disse...

Lobato nos presenteou com sua obra.
Boa reflexão!
Bjo

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Você me fez ter vontade de reler Monteiro Lobato aos 36 anos com olhos de Emília, sabe?
Belo texto!
Beijos.

Beatriz disse...

A vida vale alguns contos, sim. E este texto faz voar no tempo. Parabéns pela forma e qualidade do texto

Ester disse...

Olá amiga!

Concordo com vc, Lobato é leitura obrigatória, ninguem melhor que ele para entender, inventar e reinventar o universo infantil,

muito bom o seu relato,parabéns!


Abs,

Adriana Godoy disse...

Também sempre recorro às impressões que os livros de Lobato me proporcionaram. São coisas que ficam e não se perdem com o tempo. Muito bom o seu artigo. Beijo.

Mari Amorim disse...

Simplesmente,parabéns!!!
Gostei muito,tb estou participando dessa fantastica
iniciativa.
Beijos
Mari

Cristiane Marino disse...

Olá
Naveguei nas linhas do texto e voltei a ser criança me imaginando novamente no jardim de casa lendo Emília no país da Gramática!

Parabéns pela participação e pelo blog maravilhoso!

Cris

Luciano Fraga disse...

Embora não tenha sido leitor assíduo de Lobato,seu texto desperta uma vontade de revê-lo.Muito bom seu artigo.Abraço.

Luciano Fraga disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
APPedrosa disse...

Acho que uma das coisas mais legais é aprender sem sentir, e levar isso pelo resto da vida!

Anônimo disse...

Gostei do modo como andou entre os personagens, me fez andar junto e voltar a magia daquele tempo. Boa blogagem! Beijus

f@ disse...

Márcia ninguém escreveria melhor que tu sobre ele.... essa magia que sabes fazer os olhos delirar...
Imenso tudo o que nos transmites...
Obrigada

Infinito beijinho

ronaldo braga disse...

marcia como ta delicioso ler este seu texto sobre monteiro, vc escreve como se foose um conto, um poema, e não um trabalho sobre um cara.
muito legal e suas revelações concordamos são de todos os que um dia forma crianças, ´por que marcia alguns adultos já nasceram velhos não tiveram a feliciadade de vivenciar a inocencia de uma criança.

Anônimo disse...

É, Lobato foi um dos nossos maiores escritores, um dos nossos grandes demonstradores do que era e queria a alma infantil e por que não dizer do que ainda gostaria de ser e ver a alma de um adulto.
Gostei da forma como expôs a sua visão de Lobato, e da sua eterna linguagem poética infiltrada na sua prosa. Tenho certeza que você conseguiu lembrar a muitos que a leram e vão ler os tempos de infância.

Um beijo, menina bonita!

William

Texto-Al disse...

Lobato é incontornável. Senti-me pequeno de novo.

T.

Anônimo disse...

Marcia, faço minhas as palavras do Marcos. O evento está excelente por causa de textos como este.

Abraço e muito obrigada por contribuir para o sucesso desta coletiva.

Rounds disse...

márcia,

bateu saudade das tardes em que chegava da escola correndo para assistir o sítio do pica-pau amarelo.

pô, eu viajava tanto nas histórias que uma vez fui olhar no fundo da televisão pra se via toda a turma!!!

lindo texto!

monteiro lobato foi meu primeiro heroi.

bj

Nina disse...

Cronicas dele pra adultos?? tai algo que nao conheco. Puxa e ja sou adulta :(

mas o pó de pirlimpimpim conheco mt bem :)