GILBERTO GIL, LUZ E FAROL
Há 2 dias
Já carreguei muitos personagens no colo e já chutei sem remorsos muitos homens, cujas vidas mais parecem relatos jornalísticos...
Não vale a pena encarar guerras para abrir valas e depositar amores mortos. Canhões e tanques estão apontados para mim e eu espero. A grande virtude dos fracos. Os urubus planam felizes sobre suas carniças. Pousam e devoram olhos vazados de dor. Oroboro, o ciclo inútil da vida. Minha boca já sugou picadas de cobras e o veneno ainda abre feridas incuráveis na minha pele. Lepra. Amores arrancam partes e nos aleijam. Tromboses e cadeiras de rodas. Você me possui, escancara meus abismos e tira o resto de luz que me resta. Você jamais foi capaz de percorrer meus porões sem se perder nos meus escombros, sempre trazendo escondidas nas mãos pérolas negras e roubadas. Escafandros afogados no lodo. Anjos debruçados na lama. Cordas enlaçadas com arte envoltas no pescoço. A lâmina afiada do seu mundo me assusta mais do que guilhotinas cegas. Não há como furtar sem deixar impressões digitais ou partes dos dedos. Não quero mais ser A Suplicante de Claudel. É triste dançar uma valsa só ao som de um réquiem. Amá-lo é mergulhar com os bolsos cheios de pedras num rio verde e calmo, onde descansam libélulas e fantasmas de Virginia Wolf.