domingo, 6 de dezembro de 2009

Mosaico de Rancores: capítulo 41

Todos os dias rezo pela cegueira dos meus olhos vitrificados. Negro olhar implorando clemência. Coroa do Diabo. Cãos-guias me seguem e mostro-lhes com devoção a porta do Inferno. Porões. Telescópios descobrindo escuridões. Caminho até a cama e lá está você. Nu. Membros eretos. O espelho duplicando meus prazeres. Plenamente meu, ao alcance de todos os meus insanos desejos. Nirvana às avessas. Desejo e medo. A maçã repousa morta em minha boca. Um gosto de podridão amarga entre meus dentes. Enquanto polvos se enrolam em minhas pernas lívidas. Entregues. Refém da perversidade das minhas vontades, da tara das minhas mãos, da fúria do meu ventre quente, macio e úmido. Envolto em minhas vulvas de rancor desmedido. Violência e paixão. Caravanas e cachorros vadios percorrem minha pele. Ladro. Paralelepípedos balançam meus seios inóspitos. Caleidoscópios multiplicam minhas mãos e minhas línguas. Sinto a incoerência do seu corpo. Meus dentes te cravam e criam novos estigmas. Fisgadas. Cavalgo ideias e brota do meu púbis um mar de peixes vermelhos famintos. Descanso meus olhos nos antigos corais. Fósseis de um tempo que passou.