SENHOR, ESTAREMOS AQUI SEMPRE ?
Há uma semana
Já carreguei muitos personagens no colo e já chutei sem remorsos muitos homens, cujas vidas mais parecem relatos jornalísticos...
Saio e o asfalto engole o resto de vida dos meus sapatos. Eles enxergam o que jamais serei capaz de sonhar em ver. Eles pisam em cima daquilo que penso entender. Choro, pois não posso esconder minha cegueira atrás de óculos escuros. Sons metálicos me invadem e domam meus ouvidos. É o bater de asas das grandes e covardes moscas azuis. Meus dedos sangram e me condenam. Lâminas e crucifixos. Não há crimes perfeitos, todos sabem disso, mas eu sempre ignorei as grandes verdades, elas me pareciam com os rótulos enganosos e com as fórmulas fáceis. Eu levanto com dificuldade e caio em minha própria merda. Tento me consolar lembrando do cheiro do café da minha mãe preenchendo tudo, mas logo vem os zunidos, o enxofre, os olhos doces e mortos de Belinha... Meu passado todo em desalinho. Meu corpo costurado, vermelho e cremado. Colcha de retalhos. O vento bate e leva tudo, até o pior de nós, que antes parecia tão inútil e dispensável. Tateio meu corpo e finjo orgasmos. Clitóris e lábios não são suficientes. Gemidos me calcificam. Pedras em coma submergem. Faço dos meus lençóis o leito frágil do meu rio. Não há graça nem louvor nos meus suicídios diários.