Corro em disparada em direção ao descaminho
Trilhos me fazem andar em linhas curvas e perigosas
Tenho vertigens, vejo imagens ocas e brancas
Eu sabia que não poderia haver amor entre um escorpião e uma cobra
Guizos presos no meu dorso
Dentes e pernas não me afligem
Atalhos e mãos não cessam minha fúria de fêmea no cio
Crinas nascem e morrem no meu sexo
Cavalos feridos são simplesmente assassinatos sem golpes cruéis de faca
Minha dor é olhar o mundo e não ver nada além de um poço
fundo e imundo - desalinho - cavo o meu próprio umbigo
Flores não nascem em mim
Esterco
A morfina não adormeceu noites nem aliviou o terror das minhas lobotomias
Do lado de fora, o sol e a lua se encaram, frente a frente,
como se não houvesse precipícios
Insulinas me invadem e me tornam menos doce.
Não sei se punge mais os meus rasgos ou meus remendos.
Queria entender o vermelho-morte de Almodóvar.
O amarelo suicida de Van Gogh
Arrancar com carinho os lírios que nascem à margem do meu corpo
O nosso amor é um labirinto repleto de portas falsas
Caranguejos roçando folhas à procura de abrigo
E eu, de cócoras no escuro, devorando com aflição meus pequenos defuntos
Fetos inocentes flutuam dispersos na minha barriga
Quente feito mármore
E eu não tenho coragem de arrancá-los com os dedos
Punhos verdes e inertes. Meu corpo delgado vomita pores-de-sóis
Arco-íris entorpecidos adormecem depois das tempestades
Tudo se foi e minha cegueira não me deixou degustar os detalhes mórbidos dessa partida
Deito na minha gaiola de aço e espero o pássaro negro e cego devorar o resto dos meus olhos. Esbranquiçado.
18 comentários:
Márcia, um texto desse é mais que uma viagem de LSD, é um encontro com o inconsciente, com o onírico, visto de uma maneira crua, amarga e coberto de cores e dor. Isso é Van Gogh, é Almodóvar, são sentimentos às avessas que vc trata poeticamente, cruamente e belamente. Amei. Beijo.
Poema para viajar...
Belo, belíssimo!
Dá vontade de retirar ele do colo de Deus e criá-o como nosso, de sangue...
Márcia, que viagem fabulosa na cauda de um grande cometa, cometa poesia sempre para nos acalentar, imagens duras e cruéis, mas reais e transtornadoras,"a insulina tornou o meu sangue menos doce", fantástico, beijo terno amiga.
PS. vou pegar o sêlo, estive ausente estse dias, muito obrigado pela indicação.
Marcinha,
o pássaro nunca devorará.
Será deles subdito e deles levará o mundo que neles reside.
O pássaro será o novo olhar.
à noite deitar-se~`a num girassol adormecido e rodopiará com a lua.
E os olhos rirão, rirão, alucinados...
Gostei de te ler e de "elessedar" contigo :))
Beijos meus
Nssa,Márica...há ferocidade no poema...ipressionante
tantos erros no post,ah, era efeito do impressionismo,rs
Oi Márcia,
Em seus textos não consegui obter palavras para expressar o que me fez sentir, só sei que gostei da sensação, e irei visitá-los mais vezes. .
Obrigado, apareça mesmo! Irei te adicionar depois com mais calma para minha lista de blogs,
abraço...
Seus textos me lembram muito as letras oníricas do Underworld (a banda, não o filme).
; )
Passar por aqui é certeza de uma ótima viagem, sempre. Só posso agradecer pelas palavras tão bem dispostas, da força poética nelas contidas e pelas imagens que me são trazidas ao lê-las
Bjão e abraço de arte menina.
Corro em disparada em direção ao descaminho
Trilhos me fazem andar em linhas curvas e perigosas
Tenho vertigens, vejo imagens ocas e brancas
Eu sabia que não poderia haver amor entre um escorpião e uma cobra
Guizos presos no meu dorso
Dentes e pernas não me afligem
assim tambem eu me sinto.
Marcia aadmiravel texto, ele canta encanta e mais ainda ele desencanta. maravila.
obs
me desculpe a ausencia são tantas coisas que não vale a pena falar.
mau eu sempre que posso olho o blog leio e nem sempre posso comentar
Escritura poderosa;- raro desejo de reler : bom ter você como colega de Literatura: essa nossa praia onde rebentam ondas de pungente sedimentação de significados....abraço,
FLAVIO VIEGAS AMOREIRA
Olá Márcia
Estou precisando falar com você. Por favor, me envie o seu endereço de e-mail.
meu e-mail: priscilapimentel112hotmail.com
Um abraço
Olá Márcia
Estou precisando falar com você. Por favor, me envie o seu endereço de e-mail.
meu e-mail: priscilapimentel11@hotmail.com
Um abraço
quando eu for bom, eu irei escrever assim... muito bom.
sucesso.
Não existe pássaro negro nem cego... a penas o céu e a viagem de te ler...
marcia eu ainda estou tonto pela porrada do texto, lembra alguma coisa de mim. me deixou bebado. LSD.
"Deito na minha gaiola de aço e espero o pássaro negro e cego devorar o resto dos meus olhos. Esbranquiçado."
ARRANCAR LIRIOS. CORPO.
um texto imagens-cinema-vida-angustia-verdade.
Um texto sem a vergonha de ser ser humano, antes um texto que escancara como um mafioso que grita
-eu sou da máfia.
o texto grita
-eu sou um ser humano cruel. Um abandonado e que abandona, eu sou um paradoxo.
marcia esse texto é a afirmação do paradoxo e não da dialetica. e eu adoro isso. bjos.
Como já disse um viajante uma vez: LSD:Louvado Seja Deus! Cada detalhe profundo de consciencias e sentidos em tua poética são sinestesias almodovarianas. :)
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