Desfaço pedras e sonho com as mãos. Seu sexo me excita e me acalma, no entanto, não retira os musgos dos muros que crescem dentro de mim. Cercas elétricas. Carcereiros do que nos restou. Fígados de Prometeu. Bombas de efeito pouco moral. Não há como se proteger dos ladrões que enganam os estômagos vazios das noites. Dragões que escalam escadas e torres e devoram princesas. Você me propôs a paz que jamais te habitará. O Natal passou e nossas meias continuam sujas, murchas e penduradas naquele velho arame farpado. Os espinhos nunca me assustaram e os meus pés são duros, calejados. Penso em nosso amor fraco e hemorrágico. Eutanásias e balões de oxigênio. Procuro antigas cartas, é comum se contentar com alegrias enterradas. Te odeio e isso não me faz forte. Minha carne fresca e esfolada sangra dores passadas, hoje entendo porque as crianças tiram as cascas do machucado, é pra ver o que sobrou da queda. Viajo em ruas de paralelepípedos. Sou alvo e disparo. Tiros para cima atingem minha cabeça. Coágulos sujam sua roupa e eu me pergunto: Pode existir um homem sem sombra? Junto retalhos numa compulsão louca por recriar a vida em coisas mortas. Do jarro de flores escorre um rio verde e denso, vejo homens vindo à tona respirar. Amores não morrem, são sacrificados.
terça-feira, 3 de março de 2009
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19 comentários:
Por vezes há amores que ficam mal "curados" mal "resolvidos", que nos deixam a sangrar por dentro, sem que alguma vez nos consigamos recompor.
Os teus textos são sempre excelentes.
Beijinhos
E aih trata de escrever, thank God!
Bisous
E aih ela trata de escrever, thank God!
Bisous
O sangue vivo recorda-nos.... A dor continua...
Um texto fortíssimo.
Adorei como sempre!
Blood Kisses
marcia, difícil classificar o seu estilo. vc mistura, me parece, simbolismo com byronismo com futurismo e outras coisinhas...
o resultado é bom.
sai uma prosa atravancada.
onde aprendeu isso? fiquei curiosíssimo.
Olá Marcia,
o sonho ás vezes é de pedra e as mãos gelam...
não há sexo que descole o amor do musgo... quando os muros tem infinito há sempre uma forma de os pular... senão derrubar... quando sobra coragem e força... não sei tb como entender... por mto que em pó deixe o sonho e as pedras se enlaçarem...
O pai natal está atrasado com a máquina de lavar...
Sempre que "odeio" acabo prostrada como se eu mesma picasse o meu balão... que desce na atmosfera e pende num galho de árvore a esperar que um pássaro o liberte...
beijinhos das nuvens
Amores mortos?dores que sangram e um passado que parece enterrado, apresenta-se muito vivo para atormentar.Sua linguagem é misteriosa, como disse o Bardo;Atravanca, no bom sentido é lógico, beijo terno.
"Os espinhos nunca me assustaram e os meus pés são duros, calejados." Olha, Márcia, seu texto, egoisticamente, me fez lembrar de mim. Estava com saudade de sua prosa. Adorei suas palvras. Beijo.
sou alvo e disparo...
e essas imagens (as ilustrativas, não as que vc sugere no texto)? de onde vêm?
Marcia
Crucificados amores até ao derrame da últim gota de vida. E nas nossas entranhas vestem-se de vida, fantsmas de nós, exigindo-nos memória.
Até que um dia os apaziguamos.
Já não gritam.
Por vezes, choram em silêncio.
Um beijo.
Até que enfim voltaste!! :)
o texto marcante, e o tema menos importante o importante é o estilo, a forma, que transforma até mesmo o conteudo, isso é literatura, criar formas, criar mundos e como é bom ler algo que nos incomoda, nos faz virar de posição na cadeira.
marcia ler vc é uma fuga garantida da mesmice.
bjos
Olá Marcia,
Bela escrita, profunda, forte e fascinante.
Beijos,
Cris
Belo texto, Márcia.
Como sempre você usa muito bem as metáforas, elas ajudam a manter a intensidade do texto.
Muito bom!
Um beijo, menina!
William Lial
Oi, menina.
Hoje vim dizer que dediquei um selo a você. Se o aceitar, passa lá no meu blog para vê-lo e como funciona.
Um beijo, menina.
William Lial
Retribuindo a visita e aproveitando para, escrevendo, te dizer o quanto gosto de "te ler". Teus textos seugerem e desenham imagens fortíssimas, de fascinante realidade onírica. Fantástica e surreal.
Obrigado.
"Amores não morrem,
são sacrificados"
isso sim,
é uma verdade cruel,
incontestável e acho
que eterna...
bj
Olá Marcia, caí aqui por indicação do William Lial e adorei seu blog. Não sei ainda se foi o texto, as imagens ou o conjunto de coisas. Tenho uma coluna semanal com entrevistas com escritores que divulgam literatura através de blogs. Se puder visite www.fio-de-ariadne.blogspot.com e diga se aceita participar .
Grata
Marcia , são apenas 5 ou 6 perguntinhas e uma foto. Por favor envie seu email para fiodeariadne.blog@gmail.com que eu mando as perguntas e vc responde qdo puder.
Muito obrigada
Bom fim de semana!
Sem crucifixos.
Um beijo
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