quinta-feira, 19 de julho de 2012

Arabescos


Eu queria matar toda ancestralidade nascida em mim
Queria lixar os vincos pegajosos do passado
os vestígios dos primeiros neandertais na minha arcada dentária
apagar as ranhuras das falsas costelas
arrancar inúteis apêndices - caruncho no meio da carne -
quebrar o fêmur em dois e inventar uma nova nomenclatura anatômica
tornar minha face uma massa amorfa e não mais reconhecê-la em termos de parentesco
não conhecer homônimos, torná-la primitiva, origem, alfa,
feto de degenerados, reduto de loucos,
torturá-la até desfazê-la, de sólida matéria sublimada.
cavá-la até o limite do tutano, apalpar seu magma, devorá-la,
faz~e-la máscara-carranca e finalmente nascer,
dissolvida, combinação aleatória e contemporânea de átomos de carbono.
livre da semelhança de Deus,
livre do peso incomodo da humanidade.  

4 comentários:

Diego Pinheiro: disse...

De volta, me fascino pelas imagens de sua poética. Ah, ancestralidade... Encaro-a como o eterno conflito de nossa singularidade. Somos frutos de nossos encontros... também somos o que fazemos deles... somos nossas ramificações... nossa essência fragmentada, e por isso, sem "essência".
Gostaria que desse uma olhada nesses versos depois: http://pinheirodiego.blogspot.com.br/2012/07/quadratura-do-circulo-cognitivo.html

Beijos e abraços

Fernando Rocha disse...

A vida do não-ser, o incômodo da existência pulsando a cada instante.
O tudo e o nada em um só lugar.

Henrique Biscardi disse...

Muito forte, com a sua assinatura. Conheço os trabalhos dessa moça há algum tempo e a desnidade de sua narrativa exposta em versos me surpreende. Preciso ler mais essa moça. Parabéns!!!

Anônimo disse...

Lembra Henry Miller.